Monday, September 19, 2005

Par ou ímpar

É incrível o que pode acontecer com um solteiro fora do Rio de Janeiro. Ou melhor, com a lua fora de curso.
Sim, porque até pra ser solteiro é necessário ter talento. A pessoa que não está acostumada a ficar sem par, automaticamente vai parar em uma categoria ímpar.
Primeiro mês: A gente sai na rua e não sabe por que saiu, não sabe onde pôr as mãos e nem consegue olhar direito pros lados, uma certa paranóia egocentrada dá a impressão de que tá todo mundo te olhando.
Fim do primeiro mês: A gente já reviu milhões de amigos, conheceu um outro milhão, alguns pretendentes, mas o lema é o mesmo: peraí, não me atrapalha. Segundo mês: Começa-se a gostar de ser solteiro. Todos os dias uma turma diferente, um bar diferente, uma conversa diferente.
Muitas informações novas, novas pessoas, mundo novo, vida nova...E tu ali, descascando batata no porão. Literalmente a passeio. Uns acabam tendo romances fast food, outros nem isso, querem mesmo é muita amizade, chopp e risada frouxa.
E quando tudo começa a parecer um playground, ou uma roda gigante de emoções, pinta.
Quem foi mesmo que disse que vida de solteiro é emocionante? Esquece. Emoção é conhecer alguém diferente, por quem a gente jura que não vai se apaixonar e de repente começa a apaixonar a gente.
A sensação é vertiginosa. A gente ali, se divertindo, simplesmente sobrevivendo, ou literalmente começando a se acostumar com a vida gloriosa da boemia, e lá vem a Vida pela ponta esquerda, numa jogada de mestre desestabiliza a defesa, derruba três zagueiros de plantão e...
E o cara que não tá mais acostumado a ter par e nem ser ímpar se atrapalha todo.
Não sabe se dá a mão ou se não dá, se liga ou se não liga, se vai pra praia e foge ou vai jantar fora duma vez e encara a bronca.
Bronca? Que bronca? E se for bom? Me provem o contrário...
Sim. E a gente começa, sem querer, muito a contragosto, quase esperneando, a esperar que aquela alma caridosa que tirou a gente das esquinas malditas prove que a vida pode ser emocionante em par e não em ímpar.


Coluna publicada no site www.argumento.net

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