Sunday, March 29, 2009


Pois o afeto não visa lucros.

Não é a toa, nem por aprender na escolinha, que crianças, quando simpatizam realmente com um adulto, o chamam de Tio, ou Tia. E, principalmente crianças hospitalizadas, e bem atendidas por seus pediatrias, os primeiros e eternos Tios.
Este termo, que, justamente por ser carregado de afeto, tem a capacidade de enervar muitos adultos, em sua maioria aqueles que não são chamados de Tio, ou tia, e sim de tu, médico, médica, enfermeira, ou muitas vezes, honestamente, de “aqueles chatos” é referência pontual de bem estar infantil.
Quando, uma criança (ou adulto!) acolhida por um profissional da saúde, se sente bem atendida, amparada, e carinhosamente compreendida, ela o chamará de Tio sim, pois, depois de sua família, este profissional é a referência do cuidado maternal personificado através de um carinhoso apelido também familiar.
O tio, é aquele que aceita o vínculo, aquele que aceita o risco de envolver-se emocionalmente com uma pequena pessoa tão emocional como a criança.
O tio, é aquele, que superando o medo de sua impotência perante a doença, permite que o amor, a amizade, ou, tecnicamente, o vínculo, façam sua parte, muitas vezes dolorosamente terapêutica.
E é por isso que somos os Tios e as Tias do hospital, do consultório, ou até mesmo da escolinha.
O Tio é o irmão do Pai ou da Mãe, é quem vai ajudar-nos, quem vai cuidar-nos, quem vai ser o amigo perpétuo da nossa família.

Quanto mais “tios” uma criança tem, mais “irmãos” tem seus pais.
No cuidado com a criança e a família hospitalizada este vínculo é fundamental.
E eu diria, a única forma de tratamento eficaz. Seja ele o nome ou apelido que tiver.

Hoje, tive uma experiência, que provavelmente nunca mais, infelizmente, vá se repetir em minha vida, mesmo eu, desejando e acreditando piamente no contrário.
Recebi o telefonema do “Tio” de um paciente que acompanho, eu diria, de longe.
Ele estava triste, vencido e solitário.
Seu “sobrinho” paciente, (pois trata-se de “ Médico de Família”,) está morrendo.

A leucemia o venceu. Mesmo na espera da doação de medula cem por cento compatível de um irmão, a leucemia o venceu. A leucemia nos venceu.

O “Tio - Médico” chorava.
Discretamente, como todo Tio gente grande, mas chorava, e me dizia que, apesar da família não saber dos resultados horrorosos dos exames realizados naquela tarde, ele gostaria que eu soubesse.
Eu não tenho contato com este “sobrinho – paciente”, talvez inclusive, por medo de que ele pudesse me chamar de Tia, mas ouvi daquele homem, a mais profunda dor, dor de quem perderia mais que um paciente, dor de quem perderia um amigo.
Um amigo da família.
A única coisa que me ocorreu, ao ouvi-lo triste e mais triste a notícia foi pensar que, melhor perder um amigo, do que não ter a capacidade de fazê-los, melhor amar do que não ter coragem de se expor á vida, melhor estender a mão, do que ter medo de perdê-la.
E acima de tudo, melhor fazer o que se pode, do que endurecer por aquilo que podia ter sido feito.



Tenho certeza que nos momentos de dor, e também de alegria deste menino que logo se vai, este tio esteve sempre por perto, ás vezes quieto, ás vezes falante, ás vezes apenas oferecendo um pouco de sorvete, quem sabe?

Mas, também tenho certeza, e esta é a mais forte de todas, que, na lembrança de ambos, a única coisa mais forte que a doença é, e sempre será o amor. E este é invencível.


Ao Dr. Jairo com carinho e agradecimento.

Ana Luisa S. Guedes, Porto Alegre, 04 de março de 2008




Meses após este relato, o Dr. Jairo Fregapani veio também a falecer subitamente.

E eu, subitamente despedida, sem justa causa, deste Hospital, onde “tios” não são bem vindos.

THE WORLD IS OUR CLINIC.

Se acreditas em alguma profissão de "fé",
Que não possas dormir antes de "orar",
Pelo Jardineiro Fiel.
Jardineiro Fiel, uma obra de Fernando Meireles

Menina minha, menina.

Ás vezes a vida fica assim aborrecida
Seja aqui, na Suécia, na Suissa ou no Japão
Mas menina, minha menina
Por favor não perca a razão!

Chama as lavandas,
Os romeiros e alecrins
Reúne em ti todos os temperos
E o cheiro do Jasmim.

Procura a calma
Encontra a alma
Põe tudo de si em ti

E assim menina
Minha menina
Nunca serás sozinha,
nem aqui, nem lá ou ali.

Thursday, March 12, 2009

MUDA

" A VIDA MUDA, MUDA."